"La Piel Que Habito" (sobre o filme de Pedro Almodóvar)
Técnica mista sobre tela
90 x 60 cm
2018
A aranha Mygale abre o mote à construção da teia complexa e perturbadora de “La piel que habito”. Este filme epidérmico investiga a criação de pele artificial para seres humanos mostrando o papel e o peso que a aparência desempenha na sociedade. Assim, a narrativa faz transparecer as imperfeições humanas ligadas a conceitos sociais, políticos, psicológicos e estéticos, abordando também estereótipos culturais de género.
Esta obra cinematográfica toma como premissa várias referências literárias e artísticas, principalmente o processo criativo de Louise Bourgeois. Pensar esta artista é refletir a casa como um espaço claustrofóbico através de uma presença corpórea indissociável do sofrimento psíquico. No pequeno habitáculo que lhe é cedido, Vera, a personagem principal, refugia-se a desenhar e a esculpir pequenas peças colando fragmentos de tecidos recortados como se vestisse as suas figuras com uma nova pele, reproduzindo obras da artista. A defesa ativa do seu interior, em confronto com a ausência de contacto quase total com o mundo exterior, confere protagonismo às “Femme-Maison”. A dor psicológica, física e mental manifesta-se nestas casas que são materializadas por meio de territórios fechados com uma forte carga emocional contaminada por submissão, sexualidade, clausura, isolamento, intimidade, agressão, medo, fragilidade… A teia é, pois, uma casa frágil. Como forma de reparação, esta morada tece uma rede espiral de emoções tal como a ambivalência da aranha, agressora e protetora, hostil e acolhedora, armadilhada e delicada, prisioneira e segura.
“La piel que habito” desafia os limites da identidade humana: a essência do ser que dissimula a realidade com outra pele, a negação do real pela busca de um novo corpo… um universo em constante mutação. Um dos princípios fundamentais da obra de Louise é esta metamorfose que gera o fio condutor com a teia que se enlaça entre as dualidades exterior / interior e masculino / feminino, colocando à prova a capacidade de sobrevivência da pele que habitamos.
Lara Roseiro
Abril 2018
POP CORN
Espaço Exibicionista Galeria - Lisboa
29 de junho a 4 de setembro 2018
Vídeo Promocional Espaço Exibicionista: Group Show 2018
Comments