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  • Writer's pictureLara Roseiro

LIBRARY: ESPAÇO EXIBICIONISTA GALERIA

Updated: Sep 5, 2022


“Fui a névoa a transformar-se em cor”

Técnica mista sobre tela

60 x 60 cm

2022




“Fui a névoa a transformar-se em cor” - sobre o livro "Coisas de Loucos" de Catarina Gomes


A representação de uma analogia entre a gaiola e o panótico edifício circular em que é possível abranger com a vista todo o seu interior, a partir de um ponto de observação – é o conceito fundamental aqui presente. Deste modo, a semelhança arquitetónica do círculo surge como mote central do trabalho. A construção da enfermaria-prisão ou pavilhão de segurança apresentava esta configuração, onde albergava os quartos-cela dos doentes com perturbações mentais – designadamente os alienados perigosos ou criminosos – do Hospital Miguel Bombarda, o primeiro hospital psiquiátrico português.

Este espaço remete para um lugar de clausura, uma esfera aprisionada, um recinto claustrofóbico, evidenciando uma ausência de contacto quase total com o mundo exterior, um isolamento forçado ou um confinamento obrigatório, uma vez que se achava que estarem fechados seria a única e possível solução para aqueles pacientes, além de tratamentos dolorosos e violentos. Quando lhes era concedida a oportunidade de saída para o exterior, a porta que se abria era um outro vazio: as asas do pássaro aprisionado batiam desalmadamente, mas pouco voavam, não havia outro território “seguro” para onde ir e, assim, retornava-se já que não existia outra morada. Naquele lar encontravam-se vidas suspensas dentro de um denso vazio, num esquecimento (quase) desumano. Nesta gaiola dos loucos, o sofrimento psicológico, físico e mental manifestava-se com um forte peso emocional contaminado por submissão, agressão, reclusão, fragilidade, isolamento, abandono ou medo, colocando à prova a capacidade da própria sobrevivência.

A jornalista Catarina Gomes encontrou no sótão de um dos edifícios deste hospital um caixote com objetos abandonados dos antigos doentes e decidiu investigar as suas histórias. Foi o caso de Valentim (1915-1986), o pássaro que (não) está na gaiola. Bailarino. Mais de 40 anos internado. Adornava as suas próprias roupas, usava sapatos velhos de salto alto e enquanto bailarino usava uma bandolete de flores brancas… “fui a névoa a transformar-se em cor” como referiu no seu poema “Gota d’orvalho”.


Lara Roseiro

Maio 2022




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1 de Julho a 13 de Agosto 2022




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