A premissa “Casa”, um habitáculo da intimidade, surge como elemento principal e primitivo do processo criativo. Este espaço privado, interior, íntimo e doméstico abre caminho para outro princípio fundamental, a “Espera”, que evidencia a feminilidade, pertencendo aos valores da intimidade e do próprio espaço físico de cada um, uma interioridade e familiaridade que reporta para o território pessoal. A “Casa”, que alberga a memória, a lembrança, o sonho, a intimidade e a solidão, como cerne do trabalho, lembra Gaston Bachelard na análise que faz a esta morada pessoal e a sua ligação com racionalidade e irracionalidades. Deste modo, a “Casa” é, enquanto espaço interior, o lugar onde nascem os sonhos nos momentos de solidão e, também, onde se constroem as vivências mais íntimas e pessoais.
É entre paredes que se materializam narrativas, através da recolha de experiências confinadas ao lar, em que o processo artístico remete, igualmente, para a pintura de género, exibindo cenas de interior, situações de rotina ou frames do quotidiano, bem como a figura feminina enquanto objeto de contemplação, mas sem qualquer revolta declarada.
A série “Interioridades” dá, assim, continuidade a um processo em torno de cenários interiores, um conjunto que evoca as interioridades do lar, como espaço doméstico e estado afetivo, assim como um lugar seguro e prisioneiro, sugerindo feminilidade. “Interioridades” torna o observador em voyeur, levantando questões sobre o prazer da contemplação da intimidade do Outro. A matriz que remete para o resguardo, a proteção, o esconderijo ou a clausura da arena privada, deixa transparecer uma ambiguidade na posição das figuras, expressando privacidade, intimidade e alguma sensualidade, abordando, portanto, uma dualidade: o público e o privado.
Lara Roseiro
Fevereiro 2014
CONSTRUIR, HABITAR, PENSAR
Galeria Via Idea - Vila Nogueira de Azeitão
6 a 24 de Abril de 2016
Comments